por Rosinda, em 14.06.12
Onze da manhã...
Como todos os dias ela começava a preparar o almoço. Rodopiando de uma lado para o outro andava a sua cadelinha, companheira de todas as horas.
No dia anterior tinha decidido fazer rojões à moda da avó de Nelas. Colocou um tacho pequeno de ferro ao lume onde começou a confeccionar a carne.
Um outro tacho ainda mais pequeno para fazer o arroz branco, foi também colocado com água ao lume. Descascou uma batata, sim! Uma batata é suficiente para as duas, pensou...
De repente ficou um pouco parada...
Onde diabo vou cozer uma batata? - Os dois tachos mais pequenos já estão ocupados e os outros são enormes. Bateu com os olhos na canequinha onde costuma ferver a água para o chá e pensou:
É isso! Dá perfeitamente...
Enquanto descascava a batata a sua mente ausentou-se, voltou lá atrás... ao tempo em que comprava trinta pães por dia e muitas vezes não chegavam!
A casa não tinha o silêncio de agora.
Havia sempre alguém que rondava pela cozinha ao sentir o cheiro da comida, para provar, ou perguntar :
-Falta muito mãe?
-Cheira tão bem... mulher! Dizia o marido...
De vez em quando dava uma sapatada numa mão mais ousada que tentava depenicar!
Sempre se imaginou com uma família numerosa, se a vida tivesse proporcionado teria tido mais filhos. Teve cinco. Eram sete pessoas sentadas à mesa todos os dias...
Começou a pôr a mesa. Os dois pratos, um em cada cabeceira, perdiam-se na mesa enorme.
Censurou-se pelos pensamentos negativos, afinal tinha comida para colocar na mesa, não tinha porque se lamuriar...
Mas o pensamento continuou a voar, indiferente à critica do seu subconsciente.
E quando for só um prato?
Sim, porque um dia ela terá de fazer a sua vida...
Lembrou-se de repente que tinha de assinar aquele papel que recebe do Fundo de desemprego há cerca de seis anos e cujo prazo de entrega estava a chegar ao fim. Prazo de entrega... pensou com ironia:
-Agora quem está a passar de prazo sou eu...
Colocou a cruzinha no lugar indicando o sim, sim ainda gostaria de um emprego. Assinou cuidadosamente, secou a lágrima de frustração que lhe banhava os olhos e esperou que a filha chegasse para o almoço...
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