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Fui a Ribeira de Pena, buscar mais uma pena...

por Rosinda, em 16.03.12
Pois é verdade, como o título deste post diz, fui a Ribeira de Pena, terra do meu pai e vim de lá cheia de pena, pena porque cada vez mais me confronto com uma realidade de um País que é o meu, mas onde a justiça, os valores e a honra se vão perdendo, dando lugar a situações estranhas, diria até bizarras e inacreditáveis para mim, até ontem.
Vou começar por dizer, que por ser necessário a pedido do IHRU, para actualização da renda, foi pedida às Finanças uma certidão de bens. Estávamos tranquilos, sabíamos que havia o terreno da minha avó e a respectiva casa (em estado não habitável) e sem partilhas feitas, por se desconhecer o paradeiro de dois irmãos do meu pai. Junto a esse havia um outro terreno adquirido pelo meu pai quando viemos de Angola, onde ele tinha videiras e árvores de fruto, embora já não se tratasse dos campos à alguns anos.  Até aqui tudo bem, só que na respectiva certidão constava que ele era dono de uma casa de rés de chão e primeiro andar, com 850 m2 de quintal numa outra freguesia, mais propriamente em Cerva.
Como nem o meu pai sabia de nada, resolvemos eu e a minha irmã ir com o documento às Finanças de Ribeira de Pena. E aqui começa uma surpreendente história.
A repartição de finanças era muito pequena e apenas duas pessoas estavam a trabalhar. Dirigi-me a um deles e expliquei o que se passava, não deixando de lado a hipótese de ser um bem herdado, uma vez que existia família que se foi perdendo ao longo dos anos.
O funcionário olhou para a Certidão e depois de dar uma vista de olhos, disse mais ou menos isto:
Sabe, é muito normal isto acontecer, provavelmente foi um erro ao fazer cópia das cadernetas antigas e foi atribuído o nº de contribuinte do seu pai a este senhor. Mas não há problema eu passo já outra Certidão!
Ainda lhe perguntei se o nome do "dito" dono da casa era igual ao do meu pai, mas nem me soube dizer...
Assim saio dali com uma Certidão que diz que sim, e outra que diz que não... confesso que fiquei com a pulga atrás da orelha! Será assim tão fácil resolver estes problemas?
 
Assim eu e minha irmã decidimos que antes de voltarmos, iríamos ainda a Cerva para saber quem era o senhor, para o alertar e deixar explícito que tínhamos receio de que numa outra altura, em vez de bens aparecessem dividas... mas primeiro queríamos ir onde morou a nossa avó.
O terrenos estavam cuidados, não existiam já as árvore de fruto, nem as videiras e no lugar da velha casa de pedra estava um casarão moderno, nitidamente construído à pouco tempo. Ficamos espantadas!
Custou-me ver as pedras da casa espalhadas em cada recanto. Lembrei que numa altura em que se quis fazer alguma coisa, nos disseram que não podíamos deitar a casa abaixo. Tinha um lagar antigo, onde ainda me lembro de pisar as uvas, numa das férias...
 
Fomos saber o que aconteceu e ninguém nos soube dizer. O terreno continua sendo do meu pai, as partilhas da outra parte que era da minha avó, nunca foram feitas. Na Câmara recusam dar informações sobre como se constrói uma casa em terreno alheio, dizem que só com advogado.
Chegadas às falas com a "dona" da casa ela diz que, comprou o terreno a alguém, mas recusa mostrar documentos. Soubemos entretanto que já trabalhou na Câmara e continua a ter alguns "conhecimentos".
Cansadas e tristes, olhávamos para o nosso pai, que incrédulo só dizia:
Fazei o que quiseres, eu  estou velho, não quero isto para nada! Sofri tanto aqui...
 
Ainda fomos a Cerva...
 
Para nosso espanto, ninguém conhece o dono da outra "dita" casa. Ela existe, está a ser feito um levantamento, para poder ser expropriada. Na Junta de Freguesia não consta nenhum nome igual ao do meu pai. Aconselharam-nos a falar com o Padre, pois ele deveria saber, não estava...
 
Viemos embora com uma sensação de revolta, a pensar nas coisas que se fazem neste país, onde até já nas regiões do interior, onde a honra e a palavra se sobrepunham a tudo, já não tem valor.
Não sei o que vão fazer os meus irmãos, eu, tenho pena, nada posso fazer a não ser ficar com a minha pena, porque até para descobrir as vigarices dos outros é preciso dinheiro.
 
Bom Fim de semana!
 
Rosinda
 

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publicado às 17:40


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