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Um ano, já fez um ano que deixei de fumar. Não foi fácil, ainda lembra. Sei por experiência própria que em relação ao tabaco, o fumador é mentiroso, muitas vezes diz que quase não fuma, outras tantas diz que deixou e vai cravando um cigarro ou mais, até que acaba por voltar a comprar. Enfim, o vício e o hábito de fumar é terrível! Mas eu não fumo desde Setembro do ano que passou. Amanhã, não sei, ninguém sabe, mas sei que não quero fumar mais. Fumei mais de quarenta anos, só durante a gravidez dos cinco filhos parei de o fazer. Tive alguns graves problemas de saúde, entre eles uma (Atípia citológica grau um) nas cordas vocais, uns dias depois da cirurgia estava a acender o cigarro. Quem fuma vai entender do que falo. Então que foi que aconteceu que me fez deixar agora o cigarro?
Foi uma questão de vergonha antecipada...
Ia eu a caminho da entrada da casa da minha mãe e chamou-me a atenção um homem, nem novo, nem velho, mas sem dúvida com mau aspecto. Mas não foram as suas características que me chamaram a atenção, mas o facto de trazer na mão o que me pareceu ser o cabo de madeira de uma vassoura. Numa das pontas um prego que servia de espeto. Com estranheza observei que esse espeto servia para apanhar pontas de cigarro que colocava num saco plástico. Esquisito, pensei e como estava parada à espera da minha mãe, para darmos a voltinha diária habitual, continuei a olhar para ver o que faria a criatura com as coriscas. Fiquei gelada e repugnada quando me apercebi que depois de esfregar o saco plástico para soltar o tabaco, o homem enrolava aquela "mistela" numa mortalha e fumava...
Aquela imagem ocupou-me a cabeça o dia inteiro e pensava: Se um dia não tiver dinheiro para os cigarros serei capaz de fazer o mesmo ou até pior? Comecei a pensar que quando ficasse a viver sozinha, (o que já se avizinhava, pois a minha filha foi viver com o namorado) eu tinha que escolher, ou comia, ou fumava, ou então... apanhava coriscas! Garanto-vos que nessa noite tive pesadelos e quando acordei tinha decidido que não voltava a fumar.
Nunca mais voltei a ver esse homem, mas apesar de me fazer lembrar ao que pode chegar um ser humano, a ele agradeço o estar livre de um vício que me limpava a carteira e me sujava os pulmões! Como é bom sentir a boca limpa e respirar tão bem!
Admiro a terra, quero-a, sempre gostei dela. Sempre me senti feliz por estar vivo: apesar da guerra, das más notícias, não sou capaz de matar em mim a simples alegria de viver.
Julien Green