por Rosinda, em 28.09.11
Avó...?
Diz minha querida...
Eu queria falar contigo, mas algumas coisas eu não sei dizer em português, acho que posso dizer mal. Notava-se realmente alguma dificuldade e um sotaque francês muito acentuado.
Não faz mal linda, fala como souberes. Entre o teu menos bom português e o meu péssimo francês, tenho a certeza que nos entenderemos.
A avó reparou no sorriso que se abria no rosto da neta, na forma um pouco envergonhada como se o assunto fosse delicado. Era normal que se sentisse pouco á vontade, pouco convívio tinha com a avó. Seu pai era emigrante em França desde antes do nascimento dela. Apesar de ver a avó todos os anos, eram apenas visitas e pouco mais.
A avó tinha ido passar um mês a França e o carinho redobrou em pouco tempo.
Já cheia de curiosidade a avó incentivou-a a falar:
Então...?
E num português correcto a menina começou a falar:
Estás sozinha faz muito tempo, és tão bonita quando te arranjas... tu sabes que és bonita, certo?
Não esperou pela resposta, continuou a falar de seguida, como se tivesse receio de esquecer as palavras...
Porque não arranjas um namorado?
A avó sorriu, um sorriso cheio afeição e satisfação por saber que a neta a achava bonita.
Sabes minha linda, fico feliz por me achares bonita, mas, não sei como explicar-te, sabes... vou tentar dizer-te o que sinto.
Com a idade as pessoas ficam mais exigentes, o que foram aprendendo com a vida, faz delas pessoas mais cautelosas e embora a avó ainda tenha os seus sonhos, também tem muitas certezas da realidade.
A menina ouvia-a sem a interromper e sem desviar os olhos do olhar frontal, embora suave da avó.
E a realidade minha querida é que eu não quero alguém que me aborreça. Que reclame porque a camisa que gosta ainda não está no armário, embora estejam lá muitas... entendes? Coisas assim do género...
Ó avó! Os homens são todos assim... até o meu pai...!
A avó não pode evitar uma gargalhada... e retorquiu:
Está visto que errei na educação do teu pai...!
A menina riu também e disse:
Não erras-te nada o meu pai é muito bom, mas também resmunga!
A avó concluiu a conversa dizendo:
Minha querida estás uma mulherzinha, tens razão, não há príncipes encantados, nem seres humanos perfeitos, somos apenas isso mesmo humanos.
A conversa alongou-se em mais algumas explicações e conselhos de avó para neta e vice-versa.
Nesse dia a menina chegou a casa com uma flor para dar à avó. A flor da paixão...
Quando chegou a hora de ir para a cama, no silêncio da noite ouviu-se uma vozinha dizer:
Avó...?
Diz minha querida...
Até amanhã...
Até amanhã linda e dorme bem...
Durante um mês aquela voz suave e linda de menina se ouvia no silêncio da noite, com aquele doce carinho que deixa verdadeira saudade:
Até amanhã...
Rosinda
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